Emergência Climática e a Urgência de Soluções Adequadas
Os últimos anos têm demonstrado, de forma cada vez mais clara e expressiva, o impacto da ação humana sobre o clima, com um incremento ao nível da frequência e intensidade de fenómenos extremos que evidencia a necessidade de reconhecer e acautelar o seu impacto sobre as Pessoas e Organizações.
A confirmação desta realidade é evidenciada pela substituição da designação “alterações climáticas” pelas mais prementes e realistas “emergência climática” ou “crise climática”, e pelas conclusões do relatório “United in Science 2022”, coordenado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM).
A temperatura média global, um dos indicadores mais utilizados pelos cientistas e académicos, encontra-se numa escalada significativa. De acordo com a OMM, a concentração de gases de efeito de estufa continua a aumentar anualmente para níveis recorde.
Os últimos sete anos foram, segundo a mesma organização, os mais quentes alguma vez registados, o que exige uma ação urgente no sentido promover o combate e adaptação às alterações climáticas. No que concerne ao impacto real desta conjuntura, o relatório “Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and Vulnerability” do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), relata uma realidade crítica.
A publicação evidencia que as mudanças climáticas causadas pela ação humana têm causado impactos adversos generalizados e danos consideráveis, além da natural variabilidade climática. Entre os fenómenos que têm impactado pessoas, infraestruturas, populações e ecossistemas destacam-se os extremos quentes, na terra e no oceano, fortes precipitações, secas e incêndios.
Portugal não é exceção nesta realidade global. De acordo com o enviado das Nações Unidas (ONU) ao território nacional, David Boyd, o país está na linha da frente das nações mais afetadas pela crise climática, tanto pelo atraso na implementação de medidas, como a maximização do potencial que apresentamos ao nível das energias renováveis, assim como pela ocorrência de fenómenos adversos, sendo um exemplo claro a seca extrema que está a afetar transversalmente as diferentes regiões.
Numa ótica de mitigação dos riscos, cabe aos governos e ao tecido empresarial a implementação de medidas concretas e urgentes, naquele que é um verdadeiro desafio para minimizar o avanço e a escalada destas ocorrências. Numa perspetiva de proteção e resposta, à medida que cada vez mais pessoas, organizações e infraestruturas são afetadas, é exigido ao setor segurador o desenvolvimento de soluções ágeis e eficazes para proteger e minimizar o impacto dos cada vez mais frequentes eventos climáticos extremos.
No contexto empresarial, a gestão de riscos ambientais já não é apenas uma boa prática, mas um fator de resiliência e de sustentabilidade das próprias organizações. Num momento em que mais empresas veem a sua atividade impactada por fenómenos naturais, o ramo segurador é confrontado com a necessidade de responder eficazmente à gestão de um risco que já não é apenas emergente, mas estrutural, e que exige um profundo know-how e o efetivo desenvolvimento de soluções que permita às companhias sentirem-se protegidas perante o avanço destes episódios.
As respostas poderão ter em consideração não só a variabilidade dos eventos como o seu impacto em atividades económicas específicas, entre as quais destaco a agricultura, os transportes ou a construção, áreas que são especialmente vulneráveis e dependentes da imprevisibilidade do clima. É nesta situação inconstante que se tornam fulcrais os seguros paramétricos, uma solução personalizada, criada através da indexação a métricas e indicadores específicos.
A partir da avaliação da atividade operacional de cada empresa e do seu setor de atuação, é possível indexar o risco a variáveis meteorológicas e climáticas específicas, como temperatura, humidade, atividade sísmica, precipitação ou outros índices climáticos. Esta solução carateriza-se pela elevada personalização e pela simplicidade na ativação da indemnização, conferindo às empresas previsibilidade, estabilidade e segurança num contexto de grande convulsão e mudança.
Não podemos ignorar que estamos num ponto de viragem, a nível mundial. As mudanças sucedem-se a um ritmo que, desprovido da necessária preparação e antecipação, ultrapassa a nossa capacidade de adaptação. Perante este cenário, o setor segurador surge como um elo estrutural com a responsabilidade de representar um vetor de estabilidade, que impulsione a célere adaptação às novas exigências.
Embora os agentes de mercado, como toda a sociedade, se encontrem perante um desafio sem precedentes, acredito que o tempo que vivemos é uma oportunidade única para que estes coloquem todo o seu know-how ao serviço das comunidades numa perspetiva mais ágil, multidisciplinar, empática e flexível, para que o setor cresça enquanto motor de mudança e auxilie aqueles que, todos os dias, fazem a diferença.
Artigo de Opinião de David Sousa, Diretor da SEMPER, publicado na revista Ambiente Magazine.